O olhar de uma criança é transparente, autêntico, singular, nele podemos
ver com toda clareza suas alegrias e tristezas. Sua espontaneidade está sempre
presente em tudo que ela faz.
Se observarmos as crianças por onde passamos, seja nas ruas, numa praça,
na escola, poderemos percebê-las simbolizando muitos papeis, se exercitando,
usando muito sua criatividade. Com certeza tudo isso está contribuindo para o
seu desenvolvimento.
A criança sempre brinca. Observa-se, frequentemente, a atividade lúdica
presente enquanto comem, enquanto realizam atividades de higiene e o quanto
relutam em parar de brincar para realizar estas atividades ou até mesmo para
dormir. O mundo lúdico é o elo entre a realidade interna e a realidade externa,
compartilhado com outras pessoas.
A verdadeira comunicação se dá neste ambiente de brincadeira. O brincar é essencial, diz Winnicott, porque é
através dele que se manifesta a criatividade (WINNICOTT, 1975, p.80).
A interação lúdica relacionada
com o cognitivo e o afetivo proporciona um amadurecimento emocional e vai aos
poucos construindo a sociabilidade infantil.
O momento em que a
criança está absorvida pelo brinquedo é um momento mágico e precioso, em que
está sendo exercitada a capacidade de observar e manter sua atenção concentrada.
Isso proporcionará experiência e produtividade quando adulto.
Segundo Lapierre, o
adulto, na função de educador, reeducador ou terapeuta tem um papel importante
no desenvolvimento infantil. Para isto ele deve ter conhecimento teórico,
objetivos bem definidos e principalmente um olhar da própria vivência a fim de
obter o autoconhecimento e autoconsciência, e só então poderá entender o que a
criança vivencia. Desta forma, o adulto estará mais preparado para interagir com
o mundo infantil, de maneira adequada às necessidades da criança, sem
projetar-se.
O educador ou o
adulto que está interagindo na brincadeira com uma criança deve ser também um
facilitador da mesma deixando-a manifestar seu eu interior de forma espontânea
e criativa, dando abertura para desenvolver sua autonomia.
É necessário que a
criança adquira confiança em quem vai trabalhar com ela. Winnicott nos remete a
esta questão em seu livro “O Brincar e a Realidade”, onde cita que a criança só
se exprime criativamente quando brinca, e para que isto ocorra na presença do
adulto, é preciso que sinta a disponibilidade do mesmo.
Vygotsky vem quebrar
a dicotomia de que o mundo adulto é sério e real e que o mundo infantil é lúdico e fantasioso. Fantasia
e realidade se realimentam e possibilitam que a criança, assim como os adultos,
estabeleça conceitos e relações, insira-se enquanto sujeito social. Ele
sinaliza que, ao brincar, a criança não está só fantasiando, mas fazendo uma
ordenação do real.
Sendo assim, o adulto
ao brincar com uma criança, deve buscar sua criança interior e fazer este
momento prazeroso. Deve também propiciar um ambiente que facilite suas
descobertas e seu crescimento como um todo.
"Ao brincar com a criança, o adulto está brincando
consigo mesmo".